O engenheiro Azhar Dhia Rasheed, 29 anos, ouviu a primeira explosão às 14h (8h em Brasília). Não foi tão forte. Três minutos depois, um novo barulho fez com que ele interrompesse uma entrevista, no escritório da organização não governamental Mercy Corps. Em estado de choque, correu por 200m até a Babylon, uma fábrica têxtil de seda que concentra cerca de mil trabalhadores na cidade de Hilla — 95km ao sul de Bagdá. “Eu vi pelo menos 15 pessoas mortas ao redor de mim, e seus corpos estavam cortados”, descreveu Azhar, em entrevista ao Correio, pela internet.
Foi um ataque planejado para aterrorizar. Os funcionários saíam do turno quando foram surpreendidos pelo impacto da bomba. Correram para o outro lado, em busca de socorro, rumo a um ônibus que lhes aguardava. Era outra bomba. “Havia gente ferida por todos os lados”, acrescentou o iraquiano. Uma hora depois, quando policiais e bombeiros já estavam no local, um extremista atirou-se contra as equipes de emergência, detonando seus explosivos. O triplo ataque deixou pelo menos 50 mortos e 155 feridos.
A carnificina em Hilla foi parte da pior onda de violência a sacudir o Iraque neste ano. A série de atentados matou cerca de 102 pessoas e feriu mais de 330. O banho de sangue começou ainda mais cedo, quando uma bomba detonada perto de uma mesquita xiita na cidade de Souwayra, 60km ao sul de Bagdá, fez 11 mortos e 70 feridos. Basra, a maior cidade do sul do país, tornou-se palco de outra barbárie: um carro-bomba foi pelos ares ao meio-dia (hora de Brasília), atingindo um mercado lotado na região central. Nessa ação, 20 pessoas morreram e 73 sofreram lesões.
Para atacar Bagdá, os extremistas se disfarçaram de operários da manutenção de estradas e usaram armas automáticas e bombas contra postos da polícia e do Exército. Ao menos 33 militares foram alvejados — nove não resistiram aos ferimentos. Tarmiya (45km ao norte da capital), Faluja (oeste), Mossul (norte) e Iskandariya (sul) também estiveram ontem na mira do terror, com 12 mortes.
Por telefone, Louay Bahry, ex-professor de ciência política da Universidade de Bagdá, afirmou à reportagem que a violência é uma resposta às mortes de Abu Ayub Al-Masri, líder da rede Al-Qaeda no Iraque, e de Abu Omar Al-Baghdadi, comandante da organização Estado Islâmico do Iraque, associada à facção de Osama bin Laden. Ambos foram eliminados pelas autoridades iraquianas em 19 de abril passado. “Diferentes elementos tentam minar o governo iraquiano e os resultados das eleições legislativas de 7 de março, incluindo aliados do Partido Baath e membros da Al-Qaeda”, afirma Bahry. “Esses ataques servem para lembrar que os militantes islâmicos ainda estão ativos.”
Israel admite guerra com Irã
O vice-primeiro ministro de Israel, Moshe Ya’alon, admitiu ontem que seu país tem capacidade tecnológica para lançar uma ofensiva militar contra o Irã. A declaração repercutiu no jornal israelense Haaretz e foi dada no mesmo dia em que o regime de Mahmud Ahmadinejad anunciou o teste bem-sucedido do míssil de curto alcance Fajr-5, como parte de manobras navais no Golfo Pérsico. “Não há dúvida de que as capacidades técnicas, aprimoradas nos últimos anos, têm melhorado os potenciais de alcance e de reabastecimento aéreo”, disse Ya’alon, ex-chefe das Forças Armadas de Israel. “Essa capacidade pode ser usada para uma guerra ao terror em Gaza, para uma guerra contra foguetes do Líbano, para uma guerra convencional com o Exército sírio, e também para uma guerra contra um Estado periférico, como o Irã”, acrescentou.
Única potência nuclear no Oriente Médio, Israel tem um histórico de operações militares: em 1981, bombardeou um reator atômico do Iraque e, em 2007, atacou uma instalação similar na Síria. “O ataque permanece sendo a melhor forma de defesa”, comentou Ya’alon, durante conferência no Instituto Fisher de Estudos Estratégicos Aeroespaciais. “Não há dúvida, olhando a situação como um todo, de que já estamos em confronto militar com o Irã, o principal motivados daqueles que nos atacam”, concluiu o vice-premiê. Fontes ocidentais citadas pela agência France-Presse contaram que os mísseis iranianos Fajr-5 são do tipo terra-mar, têm alcance de 75km e alcançaram o alvo com “grande precisão” durante os testes navais.