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De janeiro até agora, o número de vítimas da hantavirose supera o de todo o ano passado

30/05/2010 14:32

Demora em procurar atendimento médico pode ser uma das causas da letalidade
 

A hantavirose ameaça o Distrito Federal. O número de mortes neste ano — cinco — já supera os registros do ano passado inteiro. Além da quantidade de mortes, chama a atenção também a letalidade do vírus. Dos seis infectatos, apenas um sobreviveu, ou seja, 83,3% dos que contraíram a doença morreram. Historicamente, o percentual no DF gira em torno de 40%. Apesar do alto índice, a Secretaria de Saúde não tem evidência científica de que o vírus está mais agressivo. “As mortes podem estar relacionadas ao retardo na procura pelo serviço de saúde ou à demora no diagnóstico”, explica o infectologista Dalcy Albuquerque Filho, do Núcleo de Controle de Endemias da Secretaria de Saúde.

A viuvez precoce roubou a alegria da dona de casa Cláudia Elizabeth Alves Ribeiro, 35 anos. A moradora do Recanto das Emas enterrou o marido, Milton Ribeiro dos Santos, 38, no começo de março. O diagnóstico apontou a hantavirose como a causa da morte. “Era uma segunda-feira quando ele teve febre de quase 40 graus. No posto de saúde, receitaram paracetamol e aplicaram uma injeção”, relata Cláudia. A febre não cedeu e, nos dois dias seguintes, o casal perambulou em busca de atendimento médico: voltou ao posto e foi a um hospital particular de Samambaia até conseguir internação no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Quando conseguiram uma vaga na UTI, ele ficou poucas horas e morreu”, lamenta. Cláudia e Milton estavam casados havia dois anos e tentavam ter um filho. “Não tivemos tempo de realizar nossos sonhos.”

Os prováveis locais de infecção continuam os mesmos: áreas rurais de Taguatinga, Sobradinho, Planaltina, Incra 8 e São Sebastião (veja arte). “As pessoas se esquecem do que a gente ensina e continuam morrendo dessa doença. Esse ano teve uma vítima no mesmo lugar onde começaram os casos de 2004. O ser humano ou esquece ou pensa que é imortal”, desabafa, com os olhos marejados, a veterinária Maria Isabel Rao Bofill, da Vigilância Ambiental do DF.

Rapidez e informação
Em se tratando de hantavirose, quanto mais rápido a pessoa infectada procurar o médico, mais chances tem de se salvar. A doença ataca os pulmões e mata em questão de horas. O problema é que os sintomas são muito parecidos com os de uma gripe forte ou pneumonia. Isso confunde os doentes e os médicos também. O infectologista Dalcy Albuquerque explica uma diferença básica que pode salvar vidas. “Quando a pessoa sente os primeiros sintomas — febre, dor de cabeça e dor no corpo — deve imediatamente se perguntar se esteve em área rural nos últimos 60 dias. Se a resposta for sim, deve ir imediatamente a um posto de saúde e informar ao médico”, alerta Albuquerque.

A hantavirose é transmitida por um vírus que vive em ratos. Ele é liberado nas fezes, na urina e na saliva do roedor e atinge os humanos quando estes estão em algum lugar no qual aspiram partículas de tais excrementos. O infectologista lembra que ninguém pega a doença no centro do cidade. É preciso morar no campo ou visitar sítios, chácaras, hotéis-fazendas, fazer trilhas, ir a cachoeiras ou acampar. Em todos esses casos, é preciso tomar alguns cuidados básicos para não se infectar (veja arte).

Nova variação da doença preocupa especialistas
Desde o primeiro surto no DF, em 2004, houve mudança no perfil das contaminações. Antes restritos à época da seca, casos de hantavirose vêm sendo registrados também nos períodos chuvosos, principalmente em janeiro e fevereiro

Seis anos depois do surgimento da doença que matou 15 pessoas e deixou os brasilienses em pânico, a Vigilância Ambiental investiga o surgimento de um novo tipo de hantavirose. As suspeitas são baseadas no fato de que, desde 2009, casos da doença têm sido registrados também em janeiro e fevereiro, período em que geralmente o roedor está entocado e tem fartura de comida em virtude das chuvas.

Historicamente, desde o primeiro surto, ocorrido em 2004, até 2008, as contaminações ocorriam apenas na época da seca, com picos entre maio e agosto. Com o fim das chuvas e o início do período da seca, começaram a aparecer as primeiras vítimas. “É importante descobrir se há um novo tipo de hantavírus circulando para que possamos estudar os hábitos do roedor e orientar a população sobre como evitar o contágio. Isso não quer dizer que seja um tipo mais ou menos letal da doença”, esclareceu a veterinária Maria Isabel Rao Bofill, da Vigilância Ambiental.

No Distrito Federal, o animal que transmite a doença é o Necromys lasiurus e o tipo de vírus é o Araraquara. Mas já foram capturados por aqui o rato hospedeiro do hantavírus Juquitiba e o que carrega consigo o tipo Laguna negra. Eles não sobem em árvores ou pés de milho, por exemplo. Fazem o ninho em buracos no chão e saem para comer à noite, quando espalham as fezes, a urina e a saliva. Quando os excrementos secam, viram poeira e são aspirados pelo homem, que acaba infectado.

Isso explica por que no DF a contaminação ocorre majoritariamente em ambientes abertos. Já em Santa Catarina, por exemplo, as pessoas contraem o vírus em espaços fechados. Lá, o hantavírus predominante é Juquitiba, hospedado pelo Oligoryzomys nigripes. Ao todo, já foram identificados seis tipos de hantavírus no Brasil, cada um associado a um tipo específico de roedor. No meio ambiente, o vírus tem pouquíssima resistência a temperaturas elevadas.

Ações
O diretor da Vigilância Ambiental do Distrito Federal, Laurício Monteiro Cruz, garante que os técnicos fazem palestras nas áreas rurais e nas escolas para alertar os moradores sobre os cuidados para evitar a contaminação. Segundo ele, as palestras são permanentes e já fazem parte do cronograma de atividades do órgão. “O alerta é para todas as doenças tropicais e não somente para a hantavirose. Também pedimos à Secretaria de Saúde para que desenvolva campanha publicitária específica de hantavirose. Mas precisamos esperar a licitação e a contratação da empresa”, explicou.

Atualmente, a Vigilância Ambiental conta um agente para vistoriar 3 mil imóveis, quando o preconizado é um agente para cada mil residências. O trabalho de conscientização tem o reforço de 200 militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, de 162 servidores do Serviço de Limpeza Urbana e de 25 bombeiros. “Além disso, o secretário de Saúde (Joaquim Barros) autorizou um concurso para 550 vagas de agentes ambientais. Preparamos parte do edital, que está agora sob análise do departamento jurídico”. Além do preenchimento dos cargos, o governo prometeu entregar 40 carros. Atualmente, a Vigilância Ambiental tem 650 servidores entre agentes, motoristas, biólogos, veterinários, químicos e técnicos em laboratórios.